Pacientes de posto de saúde serão recrutados para pesquisa nacional sobre Covid
Data da publicação: 8 de novembro de 2020 Categoria: NotíciasEstudo pretende acompanhar cerca de 300 pacientes com Covid-19 e pessoas que residem com eles em Fortaleza. Os objetivos são caracterizar a infecção, descobrir informações sobre o contágio e avaliar as possíveis sequelas
Na segunda quinzena do mês de novembro, o posto de saúde Anastácio Magalhães, localizado no bairro Rodolfo Teófilo, em Fortaleza, iniciará as atividades de captação de voluntários suspeitos de estarem com Covid-19 para que os mesmos participem de uma pesquisa nacional, coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sobre a progressão da doença nos seres humanos.
O recrutamento é para realização do estudo chamado Rebracovid, que é sobre a história natural do novo coronavírus no Brasil, e deve envolver moradores de oito estados brasileiros.
Os pacientes com casos confirmados da doença que aceitarem participar, bem como as pessoas que residem com eles, inicialmente, serão monitorados durante um ano. A projeção é de que os pesquisadores acompanhem até 300 pessoas em Fortaleza. A atividade de recrutamento, segundo a Fiocruz, já teve início em outros estados.
Participam da pesquisa instituições do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rondônia, Bahia e Pernambuco. Nesses estados, unidades de saúde como postos e hospitais servirão de sede para o recrutamento dos participantes.
O objetivo, conforme a Fiocruz, é “descrever a progressão ininterrupta da Covid-19 em indivíduos desde o momento da exposição até o desfecho”. A estimativa é que cinco mil pessoas sejam monitoradas no Brasil. O estudo é o primeiro complementar feito pela Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chikungunya (Replick), que é coordenada pela Fiocruz.
Cenários
Com o estudo, os pesquisadores irão caracterizar clinicamente a infecção e descrever a história da doença. Além disso, outro objetivo é que os pacientes sejam acompanhados no período de pós-infecção para avaliar possíveis sequelas da doença. Com o estudo, a expectativa é que seja possível mensurar os distintos cenários nos quais a infecção ocorre e representar como as características podem afetar os desfechos da doença.
No Ceará, o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luciano Pamplona é o coordenador da pesquisa. De acordo com ele, durante o recrutamento, os casos suspeitos que buscarem atendimento no posto e que residirem na área de atuação da unidade em Fortaleza, serão convidados a participar do estudo.
“Se aceitarem, será feito exame de confirmação e uma visita domiciliar para testar os contatos que moram na casa. Todos que aceitarem participar serão testados e acompanhados por até um ano. Todas as idades poderão participar, desde que aceitem e façam o teste para detecção da Covid-19 que será ofertado pela pesquisa”, informa o epidemiologista.
Os pacientes devem passar por uma avaliação clínica e laboratorial. Eles serão submetidos a testes para infecções por vírus respiratórios. De acordo com a Fiocruz, também devem ser realizadas análises laboratoriais sofisticadas para compreender a resposta imune e inflamatória do corpo humano à Covid-19. Outra expectativa é a busca por testes que possam predizer o risco de uma pessoa ter a doença e evoluir para a forma grave.
O ambulatório funcionará no posto de saúde no Rodolfo Teófilo e, segundo Luciano Pamplona, terá médicos, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeutas e alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado.
De acordo com o epidemiologista, a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) e o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen-CE), onde os exames são processados, apoiam a pesquisa que conta com o financiamento local da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).
Legenda: Banco de informações terá amostras de swab respiratório de nariz e boca, soro, sangue e extratos de células
Foto: José Leomar
Estudo criará banco de material biológico
O estudo nacional sobre a evolução da Covid-19 em seres humanos também pretende criar um biorrepositório, que, segundo o epidemiologista Luciano Pamplona é “um banco organizado de material biológico humano e suas informações associadas, coletados e armazenados para fins de pesquisa”.
O biorrepositório Rebracovid terá variados tipos de amostras tanto dos participantes como dos contactantes.
O banco de informações terá amostras de swab respiratório de nariz e boca, soro, sangue e extratos de células mononucleares do sangue periférico.
As amostras serão armazenadas no biorrepositório central do estudo, na Plataforma de Medicina Translacional da Fiocruz, na cidade de Ribeirão Preto (SP).
Os casos suspeitos que forem atendidos no ambulatório da Fiocruz serão encaminhados para diagnóstico no Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen-CE), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). A pesquisa custeará todos os reagentes necessários.
Em nota, a Sesa reforçou a importância da parceria com a Fiocruz e da pesquisa em si, pois como se trata de uma doença nova, “é fundamental entender como o vírus se comporta, sua história natural. Como os pacientes se recuperam.
Entender as rotas de contaminação, o comportamento das diferentes cepas, e até aprimorar o desenvolvimento de vacinas mais eficazes para os vírus circulantes no território nacional”.
Será cedido um freezer -70C para o Lacen-CE para viabilizar o melhor acondicionamento de amostras biológicas.
Essas amostras, inclusive, não têm regra específica sobre o tempo que devem ficar guardadas, regida pelo Ministério da Saúde. No entanto, de acordo com a Sesa, todas as colhidas no Estado estão sendo armazenadas.